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COLUNA NA PONTA DA AGULHA #001

  • Foto do escritor: napontadaagulha
    napontadaagulha
  • 18 de jan. de 2023
  • 3 min de leitura

BAHIA DE TODOS OS SONS JADSA, JOSYARA E A EXUBERÂNCIA DA MÚSICA BAIANA


Quando se despedia do Brasil, em 1969, partindo para um exílio involuntário, Gilberto Gil cantou: “[...] meu caminho pelo mundo, eu mesmo traço, a Bahia já me deu régua e compasso […]”. Muitas leituras são possíveis para entender o contexto em que essa frase foi escrita. O momento individual do artista e o trágico período político em que o país estava mergulhado são dois bons exemplos. Porém, a afirmação de a Bahia dar “régua e compasso” mostra a força da terra do Senhor do Bonfim como celeiro e mola propulsora da música popular brasileira.


Fazendo um recorte e partindo do período da modernização da música popular brasileira, passamos por Caetano Veloso, Dorival Caymmi, Gal Costa, Gilberto Gil, João Gilberto, Luiz Galvão, Maria Bethânia, Moraes Moreira, Os Tincoãs, Raul Seixas e Tom Zé, entre muitas e muitos outros.


A fonte continuou jorrando, com nomes como Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Ederaldo Gentil, Margareth Menezes, Olodum e Timbalada, até chegarmos ao século XXI, com a Bahia mantendo-se como um dos mais importantes pontos de explosão sonora do Brasil e do planeta, indo do mais tradicional ao mais experimental, revelando grupos como A Trupe Poligodélica, ÀTTØØXXÁ, BaianaSystem, Maglore e OQuadro.


Trabalhos afrossinfônicos, como o de Letieres Leite & Orkestra Rumpillez e Orquestra Afrosinfonica. Artistas como Lucas Santtana, que prima pelo apuro na sonoridade; Russo Passapusso, dono de uma poética que propõe o cruzamento de estilos e gerações, haja vista seu trabalho com o BaianaSystem e seu encontro com a mítica dupla Antonio Carlos & Jocafi; Giovani Cidreira, que dá contornos eletrônicos a canções que caberiam no repertório de qualquer artista mais tradicional; Baco Exu do Blues, que eleva o discurso das ruas, combinando crueza e metáforas surpreendentes; Luedji Luna, que, de forma elegante, encurta as distâncias entre o Brasil e o continente africano; além de um sem-número de novas artistas de extremo talento, como Caru, Larissa Luz, Lívia Mattos, Livia Nery, Neila Kadhí, Persie, Rachel Reis e Xênia França.


Em meio a tantos nomes, destaco dois bastante significativos e que ilustram muito bem essa exuberância da música baiana: Jadsa e Josyara.





Cantora, compositora, guitarrista e produtora, a soteropolitana Jadsa estreou, em 2015, com o EP Godê, produzido por ela e pelo Coletivo Tropical Selvagem. Em 2020, lançou o EP Taxidermia vol. 1, ao lado do parceiro João Meirelles (integrante do onipresente BaianaSystem), e, em 2021, colocou no mundo Olho de vidro, seu primeiro álbum, que, definitivamente, é um dos trabalhos mais impressionantes lançados nos últimos tempos.


Jadsa, que é influenciada pelo pop, rock e jazz, além, é claro, da música popular brasileira, em Olho de vidro, fazendo bom uso do acústico e do eletrônico e valendo-se do ideal antropofágico do Tropicalismo, uniu a exuberância da música baiana a altas doses da vanguarda paulista, de artistas como Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. O resultado é um disco ousado, que aponta o futuro e traz uma assinatura forte de uma jovem artista, a qual demonstra enorme controle de suas ações, ao alternar momentos suavemente brutais com momentos brutalmente suaves.



Por sua vez, a juazeirense Josyara, cantora, compositora, instrumentista e produtora, possui três álbuns em sua discografia: Uni verso, de 2012, Mansa fúria, de 2018, e Àdeusdará, de 2022. Sua carreira é marcada, entre outras qualidades, por um violão personalíssimo, que se coloca entre os mais impressionantes na tradição desse instrumento em nossa música. Ao longo dos anos, Josyara adicionou elementos afrossinfônicos à sua música, sem deixar de lado as experimentações eletrônicas, o que deu ainda mais profundidade ao seu trabalho, transformando-a numa das principais vozes da atualidade.


Dos trios elétricos aos blocos afro, do samba de roda ao samba-reggae, do rock ao arrocha, do tradicional ao futurista, a Bahia, assim como fez com Gilberto Gil, segue dando régua e compasso à música popular brasileira.



Luedji Luna - Gal Costa - Margareth Menezes



Gilberto Gil - João Gilberto - Letieres Leite









Coluna publicada no site Itaú Cultural por: Jorge Lz Carioca, radialista, curador, pesquisador musical, produtor cultural e DJ. Produz e apresenta o programa semanal Na ponta da agulha, na Rádio Graviola, é curador do Festival levada e integra o Radialivres, coletivo de radialistas do Brasil. Foi idealizador e curador do Festival BRio e do projeto Verão musical no Castelinho, e produziu e apresentou os programas Geleia moderna, Radar e Compacto, na Rádio Roquette-Pinto.

 
 
 

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