“SÓIS”, DE BABI JAQUES E LASSERRE
UMA VIAGEM MUSICAL PELAS ESTRADAS DO PAÍS
“O novo álbum "Sóis" do duo nômade Babi Jaques e Lasserre é um convite para uma viagem astral por sons contemporâneos do norte e nordeste brasileiro, conectados com a música do mundo e o cosmos.”
O parágrafo que abre o release de “Sóis” resume bem o que é o primeiro álbum da dupla pernambucana. Porém, isso é apenas o ponto de partida para a imensidão que é o trabalho de Babi Jaques e Lasserre. Além de musicistas, compositores e produtores, são fotógrafos, cineastas, iluminadores e designers.
Juntos desde 2009 e casados desde 2014, Bárbara Jaques e Thiago Lasserre iniciaram a jornada musical com o grupo Babi Jaques e Os Sicilianos, lançando, em 2013, o álbum “Cosa Nostra”. Em 2019, seguindo os versos de “A vida do viajante”, de Hervé Cordovil e Luiz Gonzaga, e “Nos bailes da vida”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, Babi e Jaques começaram a andar por esse país, levando a arte onde o povo está. Nômades, com a companhia de Costelinha, Caramelo e João, seus três cachorros, viajam em uma van, que é, ao mesmo tempo, casa, estúdio e palco ambulante. Já percorreram, durante esse período, mais de 100 cidades, rodando por quase 200 mil Km, realizando shows presenciais e virtuais, oficinas, residências artísticas, participando de festivais, imersões, gravações, fazendo mentorias e assinando a produção musical, audiovisual e fotográfica de outros trabalhos.
A vida sobre rodas, cruzando as estradas do Brasil, colocou o duo em contato com a diversidade de paisagens, costumes e sonoridades, que compõe o caldeirão cultural brasileiro. Obviamente, isto está refletido nas 12 faixas de “Sóis”, que foram compostas por Babi e Lasserre, sendo algumas em parcerias com André Macambira (“Nua”), Juliano Holanda (“O fugitivo”) e Manuca Bandini (“Movimento do ar”).
As múltiplas informações foram processadas e resultaram em um álbum conciso em suas muitas facetas. Arranjos sofisticados e apuro sonoro embalam o pop tropical psicodélico, que é recheado por muitas vertentes musicais afro-brasileiras dialogando com sons latino-americanos e de outros cantos do planeta; percussão orgânica, beats eletrônicos, violão e sintetizadores convivem em perfeita harmonia, dando ainda mais profundidade ao conceito do álbum, que relaciona cada uma das faixas a um arquétipo do zodíaco, suas cores e seus elementos: “Nua” – Leão; “Deixa fluir” – Gêmeos; “Luar” – Câncer; “Girassóis” – Capricórnio; “Seguir a vida” – Sagitário; “Movimento do ar” – Libra; “Pólvora” – Áries; “Cão guia” – Escorpião; “Peixe papagaio” – Peixes; “Lógica Zoo” – Aquário; “O fugitivo” – Virgem e “Por do sol” – Touro.
Babi impressiona pela performance, explorando a intensidade de sua voz, soando aconchegante e, por vezes, misteriosa, enquanto Lasserre revela-se um ótimo multi-instrumentista, com destaque para a sua percussão bastante criativa. O restante da instrumentação é feito por vários nomes da música pernambucana e por Rogério Samico, que também assina a produção e o design da capa. Há ainda espaço para a participação especial da fantástica Sofia Freire, na voz e vocais, na faixa “Cão guia”. Completando a parte técnica, Thiago Lasserre e de Guilherme Assis são os coprodutores nas faixas "Pólvora", "Nua", "O fugitivo" e "Girassóis"; a mixagem foi feita por Léo D; e a masterização ficou com Junior Evangelista e Felipe Tichauer.
São muitas as qualidades que encontramos no que fazem Babi Jaques e Lasserre. Entre elas, estão a dedicação, o cuidado e forma como pensam e desenvolvem suas ideias, sejam na comunicação, na parte sonora ou visual. Conceito é algo levado bastante a sério pela dupla, haja visto o resultado de seus os videoclipes e os estudos de automação de iluminação, em suas apresentações, que buscam a integração som e luz, fazendo com que a ela também seja “tocada” através de seus instrumentos. Todo esse comprometimento fica bastante evidente em “Sóis”, onde texto e música revelam a diversidade e a complexidade de um país gigante como o Brasil, além, evidentemente, do talento da dupla.
Assim como a cada localidade que visitamos só conseguimos conhecer verdadeiramente a fundo, com muita observação e atenção e, possivelmente, retornando para uma nova visita, “Sóis” nos revela, a cada audição, um novo detalhe e uma nova paisagem. Por isso, ao final das 12 faixas, não falta vontade de voltar ao início e recomeçar a viagem pelas estradas pavimentas por Babi Jaques e Lasserre.
Coluna publicada no site Itaú Cultural por: Jorge Lz
Carioca, radialista, curador, pesquisador musical, produtor cultural e DJ. Produz e apresenta o programa semanal Na ponta da agulha, na Rádio Graviola, é curador do Festival levada e integra o Radialivres, coletivo de radialistas do Brasil. Foi idealizador e curador do Festival BRio e do projeto Verão musical no Castelinho, e produziu e apresentou os programas Geleia moderna, Radar e Compacto, na Rádio Roquette-Pinto
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